O fluxo do empreendedorismo é realmente fascinante. Chamo de fluxo, neste caso, as etapas de projetos. Fazendo o que eu mais gosto, que é conversar com muita gente, descobri que o processo de product discovery, pode ser recorrente. Aliás, dificilmente não é. Cheguei a escutar de um dos empreendedores que mais admiro, que saber disso antes, teria feito muita diferença em seu caminho.
Vamos desenhar essa história, esse fluxo. Você tem uma ideia, uma não, várias. Dentro delas, talvez duas sejam realmente boas, talvez uma seja viável. Inovar e quebrar um paradigma não é necessariamente ilimitado, você tem um sistema inteiro para enfrentar. O processo de product discovery pode ser até ser mais direto, em alguns casos. Mesmo assim, desenvolver uma solução é tão desafiador quanto entender a profundidade dos problemas que valem a pena perseguir, na hora de empreender.
Existem caminhos já conhecidos (e eficazes) para percorrer no início. São as coisas que todo mundo, independente de seu projeto, faz. É o que o empreendedor da área de agronegócio tem em comum com o empreendedor da área de moda. Você faz uma avaliação estruturada de oportunidade para entender a dor que você quer resolver, você entende o público, conversa com usuários reais/potenciais e começa a identificar tudo que você vai precisar fazer, para tocar isso para frente. São as boas práticas.
Se correu tudo bem, o time está para ver o protótipo sair do forno. Isso, se as ações anteriores, além das pesquisas de mercado, também estiverem em dia com o cronograma. Vamos assumir que sim, mas depois posso falar mais sobre essas etapas detalhadamente. Bom, se você já tem esse MVP, tá na hora de colocar para jogo, certo? Testar.
Agora vem um momento crucial de todo o fluxo. Aqui começa o que chamei de recorrência, em toda a história do product discovery. A realidade é dura, selvagem. Hoje em dia, a gente consegue separar e interpretar muitos dados para sermos estratégicos. E a verdade, meus amigos leitores, é que lidando com o ser humano, não há métrica no mundo suficiente para antever tudo. Que me prove o contrário, a galera de AI (risos, risos). Mas o mundo vem para te mostrar tudo que está errado, todos os problemas, tudo que ainda precisa melhorar.
Logo, o que acontece na fase de product testing, nem sempre é festa, pizza e chopp na firma. Nas fases iniciais você pode descobrir que seus usuários não estão respondendo bem ao MVP. O diagnóstico? Outro processo complexo. As vezes tá faltando um refinamento no UX como um todo ou, eles simplesmente não animam com o ideal do protótipo, quando estão testando. E atenção, esse é o timing! Mais difícil do que ter sucesso é desapegar do caminho que você imaginou, alimentou e acreditou que seria o melhor para atingir esse patamar, viu? Então pode sim ficar desapontado, mas peça a pizza e compre o chopp, é hora de recarregar.
E isso tudo porque nós ainda não chegamos na conversa sobre investidores. Está aí, um “user” que vai modificar mesmo seu negócio. Seja o plano de, ou o próprio produto. E na maioria dos casos, tá tudo bem. Isso não deve ser visto como algo negativo e sim, como mais um crescimento. Você descobre seu produto quantas vezes for necessário, sem medo. Você, afinal, é um empreendedor, oras bolas!
Acredito que o desafio mais legal da inovação, possa ser quebrar, ousadamente, com um status quo muito mais do que gerar soluções dentro dele. Mesmo assim, os dois caminhos têm um alto grau de complexidade. Alguns hábitos e visões estão tão enraizados em organizações e até mesmo dentro do empreendedorismo em relação aos processos de desenvolvimento de produtos, que é difícil “quebrar” a cultura. Em seu aclamado livro Inspired, Marty Cagan nos convida a uma reflexão muito bem estruturada sobre a construção das fases de desenvolvimento de uma ideia em solução, seja qual for o caminho que você, ser desbravador, vai escolher.
Talvez, empreender possa até ser comparado, de forma ilustrativa com o conceito principal do Darwinismo, em que a sobrevivência não é garantia para os mais fortes, mas sim, para os que têm mais capacidade de adaptação. E nisso, vem o aprendizado constante, recorrente. Não adianta criar protótipos, fazer ajustes, liberar dezenas de atualizações, falar com seus clientes e usuários e fazer testes e mais testes se você não ajustar sua caminhada, mediante o que você aprende. Lembre-se, essa é uma experiência sua. Vou apelidar de FX, “Founder’s Experience”. De qualquer forma, de algumas coisa já sabemos mais “universalmente”. Receita, não tem. Cada um tem sua história para criar, contar e trazer também. Ainda assim, devemos aprender com os outros. Minha colega, Danielle Teixeira, que também escreve para o Bípede, elucida este ponto com muita sabedoria em seu texto “Como a física pode te ajudar a inovar”.
Lívia Bruno é assistente de inovação da Fenasbac e compartilha com o Bípede o que aprende no mercado